segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Energia solar espera por um amanhecer nos EUA

Energia solar espera por um amanhecer nos EUA

Fonte: Valor Econômico

Data: 14/09/2009 14:26

Painéis solares podem não adornar o topo de todos os edifícios, mas governos no mundo inteiro talvez estejam, finalmente, dando ao setor o ímpeto renovado necessário para concretizar o seu potencial.

A despeito das taxas recordes de crescimento nos últimos cinco anos, o alto custo (a energia solar pode ser até quatro vezes mais cara que a geração tradicional de eletricidade a partir de gás) e a crise econômica implicam que o sol não se tornou uma fonte energética estabelecida.

Embora muitas companhias de energia solar fossem lucrativas antes do desaquecimento econômico, favorecidas por subsídios governamentais, o aperto de crédito e a queda na demanda de energia tiveram impacto sobre elas, assim como sobre o restante do setor energético. Isso levou à queda de alguns preços de componentes, o que passou a pressionar as margens de muitos fabricantes de equipamentos.

Alemanha, Japão e Espanha lideram o mercado, principalmente porque seus governos assumiram uma dianteira precursora no incentivo ao desenvolvimento da tecnologia. Por consequência, esse setor é liderado predominantemente por companhias europeias.

A alemã Q-Cells é o maior fabricante mundial de células solares, ao passo que a Abengoa Solar, uma companhia espanhola, construiu, neste ano, a maior torre solar do mundo, disponibilizando eletricidade a 10 mil residências.

Entretanto, a China e os EUA estão envolvidos em um esforço concertado visando compensar o tempo perdido. A China já é a maior produtora mundial de painéis solares, mas exporta 90% dos equipamentos, enquanto muitos observadores no setor acreditam que os EUA suplantarão seus concorrentes em pouco tempo assim que Washington passar a dar maior atenção à questão.

Em âmbito mundial, Jeff Smidt, gerente-geral de operações energéticas mundiais dos Underwriters Laboratories, diz estar crescendo o número de pedidos de selo de aprovação solar à organização responsável por testes e certificação de segurança, particularmente por parte de fabricantes chineses.

“Estamos presenciando um enorme aumento no número de painéis solares submetidos à nossa avaliação”, diz Smidt.

A China está construindo sua primeira usina de eletricidade comercial à base de energia solar, o que despertou a atenção de empresas em todo o mundo, interessadas em disputar os contratos.

Mas os EUA, a partir de seu pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões – que inclui incentivos e isenções tributárias para projetos com energia limpa no país nos próximos 10 anos -, estão atraindo maior atenção.

“A maioria dos fabricantes em todo o mundo veem os EUA como “a bola da vez” no setor solar”, diz Smidt.

Recente relatório da Pike Research, grupo de pesquisas sobre tecnologia limpa, diz que em torno de 2014 os EUA poderão estar na liderança da indústria solar. O país é, atualmente, o quarto maior no setor, atrás da Alemanha, Espanha e Japão.

Antecipando-se a um possível boom nos EUA, uma série de empresas instalaram-se no país nos últimos doze meses.

A SolarWorld, um grupo alemão, investiu US$ 500 milhões em uma indústria alimentada a energia solar no Oregon. A companhia combina todos os estágios da cadeia de agregação de valor fotovoltaica solar, da matéria-prima silício a usinas de energia elétrica solar.

A Fotowatio, uma das maiores produtoras independentes de energia solar da Espanha, negociou a compra de importantes operações solares americanas, entre elas a maior instalação fotovoltaica solar nos EUA (na Base Nellis, da Força Aérea) da californiana MMA Renewable Ventures.

E a japonesa Itochu adquiriu 85% das ações da SolarNet, uma integradora de sistemas fotovoltaicos solares.

O conceito de painéis solares foi desenvolvido em 1861 por Auguste Mouchout, que inventou o primeiro motor solar. Em 1953, a Bell Laboratories (hoje AT&T) criou a primeira célula solar de silício capaz de gerar uma corrente elétrica, despertando grandes expectativas. O embargo do petróleo na década de 70 deflagrou intenso interesse nessa fonte alternativa de energia.

Energia solar é atualmente usada em diversas maneiras. Unidades fotovoltaicas convertem luz solar em eletricidade; componentes térmicos solares absorvem a energia do sol e geram calor a baixa temperatura, produzindo água quente ou aquecimento de ambientes; e concentradores de energia solar usam materiais refletivos em sistemas do porte de usinas, concentrando o calor do sol para aquecer um líquido sintético que esquenta água para acionar turbinas a vapor e produzir eletricidade.

Além disso, elementos solares passivos são empregados por arquitetos para redirecionar a luz solar e melhorar a iluminação em edifícios. Isso algumas vezes envolve técnicas de construção empregando materiais especiais que absorvem o calor do sol para liberação posterior e aquecimento durante noites mais frias.

Uma legislação apropriada é a maneira certeira de incrementar o uso de energia solar, afirma Branko Terzic, diretor de políticas regulatórias de energia e recursos naturais na Deloitte, uma firma de consultoria. Ele cita como exemplo a Alemanha, que, entre outros países, ampliou seu mercado solar ao exigir que as companhias de eletricidade comprem toda a energia solar disponibilizada a preços elevados fixados pelo governo.

O preço da energia solar é fixado em nível suficientemente alto e os prazos de validade dos contratos de venda da energia são suficientemente longos para permitir que as operadoras financiem projetos e obtenham níveis de lucratividade atraentes.

Entretanto, Smidt preocupa-se com o fato de que os consumidores poderão não permanecer tão sensíveis às questões ambientais à medida que o custo elevado de energias renováveis (as modalidades solar e eólica respondem, cada uma, por cerca de 1% da energia gerada nos EUA) começar a aparecer em suas constas de eletricidade.

“Só testaremos definitivamente nossa vontade política para aceitar preços relativamente altos para a energia quando as modalidades renováveis se tornarem um componente considerável da cesta energética”, diz Neal Schmale, presidente e principal executivo da Sempra Energy, uma geradora de eletricidade.

A Sempra iniciou recentemente seu primeiro projeto de geração de energia solar em Nevada, ao instalar mais de 167 mil módulos solares em 32 hectares de deserto, para gerar eletricidade suficiente para suprir cerca de 6,4 mil residências. A totalidade da produção, de 10MW, foi contratada nos termos de um contrato de venda de energia, por 20 anos, com a Pacific Gas and Electric, companhia de eletricidade do norte da Califórnia.

A demanda das companhias de eletricidade por fontes renováveis está crescendo, porque elas precisam cumprir padrões estaduais (e, no futuro, possivelmente federais, segundo esperam muitos analistas) referentes a eletricidade de fonte renovável, que exigem que um percentual da geração de energia seja originada de fontes renováveis.

Mark Pinto, executivo principal de tecnologia na Applied Materials, fabricante de tecnologias solar e de semicondutores, diz que parte da migração para o aproveitamento solar depende de uma mudança de mentalidade, de convencer as companhias de eletricidade que duvidavam do emprego generalizado desse tipo de tecnologia a ver que elas serão construídas e utilizadas.

"Nós estamos vendendo energia de fonte solar como loucos em Houston”, afirmou John Berger, executivo-chefe da Standard Renewable Energy. Em vista da longa história do petróleo e do gás na capital energética do mundo, a afirmação é digna de nota.

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