segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pane tem natureza muito diferente do apagão de 2001

Reproduzo abaixo artigo dos professores Nivalde de Castro e Roberto Brandão publicado na Folha de São Paulo no dia 12 de novembro de 2009.


Pane tem natureza muito diferente do apagão de 2001

NIVALDE J. CASTRO
ROBERTO BRANDÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O grande blecaute de anteontem reacendeu no imaginário popular o fantasma do apagão. Tudo o que dá errado no Brasil em termos de infraestrutura é chamado de apagão. Fala-se de apagão aéreo, de apagão logístico, de apagão rodoviário. Mas o apagão original, aquele que popularizou o termo, foi o racionamento de energia de 2001.
O que houve na última terça, por mais impressionante que tenha sido pela extensão da área geográfica afetada, foi um evento de natureza muito diferente do apagão de 2001.
Naquele ano, o Brasil vinha de um longo período de baixos investimentos em geração e transmissão de energia elétrica. O índice de chuvas foi abaixo da média, e o sistema elétrico, que trabalhava sem a folga adequada, não teve como abastecer o país.
Hoje, a situação do setor elétrico é outra. Houve uma recuperação dos investimentos no setor, sobretudo em linhas de transmissão, mas também em geração termoelétrica e hídrica. Além disso, este tem sido um ano muito úmido, trazendo farta disponibilidade nos reservatórios das hidroelétricas.
Outro aspecto importante foi a crise econômica, que reduziu o consumo de energia elétrica, de modo tal que hoje temos uma carga menor do que havia sido antecipado.
Mas se tudo está tão bem com a geração e a transmissão de energia, como pôde ocorrer um blecaute como o de terça?
Ora, um blecaute, isto é, uma falha geral no sistema de transmissão, é um evento improvável, mas que pode acontecer. É um pouco como morrer fulminado por um raio: é difícil de ocorrer, mas não é impossível.
Anteontem, houve um desligamento simultâneo de três linhas de transmissão de 750 kV de Itaipu, cuja causa precisa ainda está sendo investigada. O sistema elétrico simplesmente não é capaz de resistir a um evento como esse.
Se considerarmos a lógica do planejamento e da operação do sistema de transmissão, entendemos que a perda de dois equipamentos de um mesmo circuito pode até ser contornada; mas a perda de três aparelhos com a mesma função sempre resulta em um blecaute.
A dimensão do blecaute é explicada pela importância do circuito atingido: o sistema de transmissão de Itaipu, o maior do país.

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NIVALDE J. CASTRO é coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico) da UFRJ
ROBERTO BRANDÃO é pesquisador sênior do Gesel


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