quinta-feira, 25 de junho de 2009

Investimentos em energias renováveis

Com o agravamento das previsões dos cientistas sobre o aumento do aquecimento global, fica cada vez mais urgente a necessidade de substituir insumos energéticos como petróleo e carvão – responsáveis pelas emissões de gases – por fontes limpas de energia. O tema deixa de ser apenas um sonho de ambientalistas e começa a ser um negócio lucrativo.
No agronegócio, por exemplo, o Brasil pode ganhar por ano em torno de U$$ 160 milhões com a venda de créditos de carbono obtidos mediante a utilização da biomassa para gerar energia. O maior potencial está nos cultivos de cana-de-açúcar, que hoje cobrem 7 milhões de hectares no país, com previsão de aumentar 50% até 2015 em decorrência da expansão do uso de biocombustíveis. Cada megawatt por hora de energia produzida pelo bagaço da cana evita que mais de meia tonelada de CO2 seja lançado na atmosfera – caso essa energia fosse obtida por óleo combustível ou carvão mineral. “Além de combater o aquecimento global, a biomassa traz vantagens comerciais para as indústrias de açúcar e álcool”, afirma Ivan Zanatta, do grupo Jalles Machado, proprietário de usinas em Goiás. Na última safra, a empresa moeu 2,2 milhões de toneladas de cana. Entre 2001 e 2007, o bagaço de cana produzido pela empresa como fonte de energia evitou a emissão de 60 mil toneladas de CO2 e o projeto é deixar de emitir o dobro desse volume até 2014, quando a empresa tiver equipamentos mais eficientes para aumentar a geração e vender eletricidade para cidades no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Energia do vento
Mas não só a biomassa é fonte de negócios de carbono. A energia eólica e as pequenas centrais hidrelétricas também proporcionam esse tipo de receita. Impulsionados nos últimos anos pelo Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), os empreendimentos credenciados têm garantida a compra de energia pelo setor elétrico brasileiro. Até dezembro de 2008, o programa aprovou 144 projetos capazes de gerar energia suficiente para evitar a emissão atmosférica de 2,8 milhões de toneladas de carbono anuais, podendo valer R$ 100 milhões por ano com a venda de créditos de carbono.“O valor pode ser muito maior se for levado em consideração o potencial ainda não explorado para as fontes alternativas no Brasil”, afirma Roberto Meira, do Ministério das Minas e Energia. Até 2017, segundo plano do governo federal, o país produzirá 6,2 mil megawatts de biomassa, ventos e pequenas hidrelétricas – quase o triplo da geração atual.O mercado de carbono atrai empresas estrangeiras, como o Grupo EDP de Portugal, dono de quatro pequenas hidrelétricas no Espírito Santo e Mato Grosso do Sul que, até 2012, devem ter um crédito de 1 milhão de toneladas de CO2 que deixaram de ser emitidas. Parte do crédito foi negociado com a própria matriz da empresa na Europa, abatendo essa redução das cotas obrigatórias do país. “A receita, no entanto, foi investida no Brasil, para proteger nascentes, gerar renda para artesãos e melhorar a qualidade de vida no entorno das usinas”, afirma Pedro Sirgado, diretor do Instituto EDP.
Gaúchos investem em energia eólica
Os bons ventos do mercado de carbono chegam para a energia eólica (foto), em especial no município de Osório (RS). A região concentra quase a metade de toda a eletricidade hoje produzida no país a partir dessa fonte. O empreendimento Ventos do Sul, que reúne os parques eólicos de Osório, Sangradouro e Índios, mantém um total de 75 torres capazes de produzir energia suficiente para atender anualmente 650 mil habitantes. Os parques evitaram em 2008 a emissão de 151 mil toneladas de CO2, caso o sistema de abastecimento regional utilizasse termelétricas. O projeto agora é triplicar essa produção em parceria com investidores espanhóis. O potencial brasileiro para explorar a força dos ventos é 100 vezes superior ao uso atual.Bagaço de cana dá dinheiroAntes de entrar em funcionamento o mercado de créditos de carbono com base no MDL, a usina Coruripe, em suas unidades de Alagoas (foto) e Minas Gerais, produziam energia com bagaço de cana para consumo próprio. A tecnologia era antiquada e ineficiente. Mas as novas perspectivas mudaram tudo. Hoje, a empresa gera 653 megawatts por hora de energia usando biomassa, parte distribuída para a rede elétrica das cidades próximas. Desde 2005, a tecnologia limpa passou a render créditos. “Muitos diziam que era ficção e perguntavam se acreditávamos em Papai Noel”, conta José Correia Barreto, gerente financeiro da empresa. Hoje, o grupo arrecada 1 milhão de euros por ano com os títulos de carbono vendidos no mercado. O dinheiro é aplicado na conservação da Mata Atlântica em meio aos canaviais e em alternativas de emprego para as populações do entorno das usinas.Hidrelétricas ganham eficiênciaAumentar a geração de energia de antigas usinas hidrelétricas sem causar impacto ao meio ambiente e ao patrimônio histórico de obras que datam do século 19 também vale crédito de carbono. É o caso do trabalho concluído na usina de Monte Claro do Grupo CPFL (foto), aprovado em 2006 para ingressar no mercado climático. A modernização da hidrelétrica equivale a uma redução de 850 mil toneladas de CO2, transformada em crédito. Recentemente, mais três pequenas centrais hidrelétricas na região de São Carlos e Araraquara (usinas de Gavião Peixoto, Capão Preto e Chibarro) receberam R$ 39 milhões de investimentos para produzir mais e melhor. Juntas, essas usinas passaram a gerar energia adicional equivalente à de uma nova hidrelétrica. Até 2012, a empresa pode faturar cerca de 11 milhões de euros com a nova mercadoria.

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